quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Delirium

Crianças choram nas ruas desesperadas
Cadê seus pais?
Correm e vivem por um pote de cola
Às vezes por duas drogas ou mais

As senhoras já não são mais tão recatadas
Cada vez mais velhas com homens cada vez mais novos
Todas com mais dinheiro à medida que o tempo passa

Os adultos têm pressa, não podem parar.
No máximo para um cafezinho

Os adolescentes jogam a cabeça pra frente e pra trás
Ao som de guitarras pesadas
Ou então dançam balançando a bunda
Até o chão, chão, chão.

Daí entende-se: as pílulas não funcionam mais
Nem o Rivotril ou o Lexotan
Podem impedir essa loucura vã

Muitos morrem todo dia,
Mas poucos sabem que já morreram
A maioria só finge alegria

Mas quando chove - aí sim
Todos choram juntos com o céu
Levando as lágrimas todas aos bueiros
E gerando um grande alagamento.

Os potes de cola bóiam na água
As senhoras largam seus homens
E choram por seus filhos

Os jovens continuam batendo cabeça ou dançando
Até morrerem afogados no próprio lamaçal
De suas músicas

As crianças não param de gritar
Os gritos são tão irritantes que provocam ira no destino
Que as destrói, em pedaços, membro por membro.

Os adultos tomam suas pílulas de ilusão
Enquanto tentam controlar a situação
São frios e chatos
Só amam para se divorciar

Na verdade, pouco importam os outros
O que dá lucro são os negócios
Não se pode afetar o progresso
Só por meia dúzia de milhões de infantes.

O progresso, progresso
Nada mais destruidor
Tudo em nome do progresso
Até o regresso.

No meio do caos,
Um pai procura por seu filho, haviam brigado
Afinal, o filho era viado
Mas agora seu pai se arrependeu.
Em meio aos destroços, lá está ele!
Mas agora é o filho que não quer o pai
Então um poste cai sobre os dois

O que é a intolerância ao preconceito,
A não ser mais um preconceito?

Que morram todos
Não há a necessidade para que vivam,
Se for pra viverem assim.
Os anos passam no calendário,
E a única coisa que todos fazem é esperar
A morte chegar.

Pois bem, ela chegou
Para que o desespero?

O desespero vem dos seres aglomerados.
Quando se juntam em grupo, prometendo união,
É só um pretexto à solidão
Na verdade, a lei do mais forte deve prevalecer
E não há os fortes sem os fracos.

A Solidariedade é uma mentira
A Amizade é uma mentira
A Família é uma mentira
O Poder é uma mentira

Menos o Amor!
O Amor é puro, essência da vida
Os humanos não foram feito para andarem em bandos, alcatéias
Foram feitos para viverem a dois
Só assim se atinge a perfeição
Para que pensar? Basta amar!
Mas amar de verdade, porque sem sinceridade
É só promiscuidade

Aquela que, uma vez ou outra,
Nos enche de vazio.
Dando uma sensação de completude
Até o próximo beijo
Onde tudo se esvai

E nada pode ser completo, se um dia acaba.
Nem as crianças.
Nem os adolescentes
Nem as senhoras e seus amantes
Nem os adultos executivos
Nem o progresso
Nem a cura promovida pelas pílulas.

E fim.

2 comentários:

  1. Um dos seus melhores textos é esse =)
    gosto dele, pois ele retrata todas as coisas observáveis de uma maneira simples e direta. Bastante objetivo esse seu jeito resumir um pedaço da realidade, do mundo, das pessas;

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  2. Gostei muito do texto e as primeiras estrofes me deram uma inspiração (i), especialmente uma frase.
    Vou escrever depois posto XD. Parabéns \o/

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